Adsense Cabeçalho

PiTacO do PapO! 'A Tartaruga Vermelha' - 2017

NOTA 9.0


Por Bruno Santos



'A Tartaruga Vermelha' é o primeiro longa de animação de Michael Dudok de Wit, coproduzido pelo Studio Ghibli. Premiado no Festival de Cannes de 2016 e ganhador do Annie Awards 2017, na categoria Melhor animação independente, o filme é um dos fortes candidatos ao Oscar de Melhor Animação de 2017 e sem dúvidas um dos melhores no gênero do ano.

A primeira cena do filme revela um sobrevivente de um naufrágio em alto-mar, sob forte chuva. As ondas o levam a uma ilha completamente deserta, onde se recupera e prepara uma jangada para seguir um novo rumo. Em sua partida, uma imensa tartaruga vermelha o surpreende e destrói sua embarcação improvisada. Isolado na ilha, o homem presencia o improvável e conhece uma criatura mágica, com quem compartilha o resto de sua vida. De nada sabemos sobre as personagens. De onde vêm, que mistérios e segredos compõem suas vidas, nem ao menos como se chamam. Mas nada disso é necessário. Em uma narrativa linear, o passado torna-se algo pouco interessante diante a tantos questionamentos sobre o futuro. Abdicando de diálogos, apenas com alguns gritos e interjeições, as personagens revelam quem são através de suas atitudes.


Partindo de trajetórias peculiares de seres misteriosos, Wit, que assina o roteiro junto a Pascale Ferran, desenvolve uma fábula sobre a fragilidade e efemeridade da vida. O filme faz uma meditação sobre a necessidade do amor para reconhecer aquilo que é realmente essencial. Em tempos de extrema materialidade, aqui a essência é a força que se sobrepõe.

Impressiona a naturalidade com que a história se desenvolve. Pequenas metáforas pontuam importantes fases da trajetória das personagens, seja através da mudança dos corpos e do ambiente, seja por meio da inserção de novos personagens. Isso ocorre, por exemplo, quando as marcas deixadas pelos pés na areia se encontram em um abraço para representar a aproximação afetiva entre o homem e a mulher. O espectador é hipnotizado pelo poder das imagens e do som para testemunhar o instante presente. 'A Tartaruga Vermelha' quer (e consegue) ser mais do que uma história a ser contada no cinema. Ela também é uma experiência visual e sensorial, que desperta a empatia, comove, alegra e até faz você prender a respiração — uma baita carga de adrenalina. Essa experiência é intensificada graças à utilização primorosa do som. A relevância de ruídos, silêncio e da música ajudam a manter o ritmo da narrativa sem permitir que os poucos cenários se tornem cansativos. Mas, vale ressaltar, que o visual nem de perto cansa os olhos. As imagens, ora realistas ora aquareladas, são um verdadeiro espetáculo de cores e iluminação. O jogo de luz e sombra é um dos traços autorais de Michael Dudok de Wit, que possui em sua filmografia quatro curtas-metragens, entre eles o vencedor do Oscar 'Pai e Filha'. Em 'A Tartaruga Vermelha', é impossível não contemplar as personagens a andar na areia da praia e nadar no mar, ou notar a maneira que o céu se transforma e reflete nas águas ao longo do dia.

Wit aceitou a responsabilidade de dirigir a primeira coprodução do Studio Ghibli e conseguiu responder à altura (recebeu até elogios do renomado Hayao Miyzaki). A animação não fica ao lado de outras produções do estúdio japonês, como 'Meu Amigo Totoro' ou 'A Viagem de Chihiro', mas também não se define como uma animação francesa contemporânea. 'A Tartaruga Vermelha' construiu sua própria referência, sendo o resultado perfeito da união de duas das maiores produtoras de animação mundial. A sutileza de contar histórias sem dizer ao menos uma palavra é um estímulo à sensibilidade. Uma pequena obra-prima que merece ser contemplada no cinema.






Super Vale Ver ! 










Nenhum comentário