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PiTacO do PapO! 'Os Pobres Diabos' - 2017

NOTA 8.5


Por Rogério Machado


Cinema pra mim sempre foi muito mais que um emaranhado de cenas conduzidas por um roteiro, uma história central. Cinema me toca de tal forma, que as vezes fica praticamente impossível definir o sentimento. Algumas histórias me tocam mais, outras menos, mas cada uma, à sua maneira, tem sempre algo especial pra falar.  

As produções nacionais vez por outra me comovem, e essa ternura foi trazida à superfície novamente: 'Os Pobres Diabos', do diretor cearense Rosemberg Cariry, exala poesia, encantamento, e rigor técnico - que orgulha sobremaneira quem ama a sétima arte, e sobretudo o cinema autenticamente brasileiro, que tem raiz, identidade.


Na história vamos conhecer os impagáveis personagens do “Gran Circo Teatro Americano”, que ao melhor estilo mambembe, perambula por pequenas cidades dos sertões, até chegar à cidade de Aracati, onde ali todos os dias reproduzem uma peça teatral. No cotidiano do circo, acontecem aventuras e situações corriqueiras típicas desse dia a dia, nas quais os personagens agem ao modo picaresco dos anti-heróis da literatura de cordel e do romanceiro popular. As dificuldades se acumulam, mas a arte ajuda a superar os problemas e tragédias. O sentimento mútuo é que o espetáculo está acima de tudo, e não pode parar. 

'Os Pobres Diabos,' além de ter um texto ágil e com muita comicidade, é um deleite aos olhos,  a fotografia de Petrus Cariry é inteligente ao usar todo potencial de uma região litorânea e com imensidões áridas ao mesmo tempo. Os planos abertos, que muita vezes lançam mão somente de uma câmera estática - principalmente nas tomadas dentro da tenda do circo - dão a real impressão de estarmos dento do teatro. A paleta de cores é variada e vai de um amarelado enternecido até cores quentes e vivas que inundam a tela de beleza. A condução de Cariry é um primor;  o diretor mostra-se sereno e atento aos mínimos detalhes, na condução do seu modo de fazer cinema, com um toque autoral. Embora se veja favorecido pela revolução tecnológica em curso na área, explora a sua faceta humana, natural e artesanal. Sabe que depende sempre ainda da expressão dramática de atores e atrizes, do rigor da fotografia, da generosidade da luz solar, da criatividade diligente e inspirada da direção de arte.

O filme chega num momento providencial e acaba se tornando um protesto, um discurso à favor da clássica artística, que sofrem por não terem estabilidade na sua profissão, que em sua grande maioria ,dependem de um contrato temporário e mais do que qualquer outro tipo de profissional, não sabem o que será do dia de amanhã. O roteiro magistralmente usa essa referência na peça que apresentam todas as noites, onde a trama se passa no inferno, e os 'endiabrados' presentes disputam a atenção do bandido Lamparina (uma homenagem ao ícone Lampião) que juntamente com Maria parecem ditar as regras por ali. 

'Os Pobres Diabos' é mais uma dessas pérolas do nosso cinema, que merece ser reverenciada e vista por todos os cantos do país. Sobretudo o espectador brasileiro, com toda certeza irá se divertir e se reconhecer dentro dessa história repleta de lirismo, humor e melancolia. 




Vale Ver ! 


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