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PiTacO do PapO! 'Bingo: O Rei das Manhãs' - 2017

NOTA 9.5


'O possível não tem graça...'  repetia inúmeras vezes para quem quisesse ouvir. O dono da frase?  Augusto Mendes (ou melhor Arlindo Barreto) o cara que deu vida à uma das grandes febres dos anos 1980: Bingo, ou melhor , a palhaço Bozo.  Com exceção de Gretchen - a rainha do bumbum que também despontou naquela década - os nomes foram trocados no filme, e acredito ser justa esse 'licença poética' , já que o filme não se trata exatamente de uma cinebiografia e sim de um filme de ficção livremente inspirado na vida do artista.

O possível parecia não fazer sentido para Mendes (vulgo Barreto, e vice versa) já que freios não faziam parte do seu vocabulário, tanto que do obscuro mundo da pornochanchada, o artista foi catapultado ao posto de líder de audiência, numa época em que Xuxa dominava as manhãs da Globo. A Globo aqui aparece como Mundial e o SBT (na época TVS; sim.. com certeza muita gente não vai lembrar disso) no longa ganhou o nome de TVP. Essa ausência de limites não conduziria sua vida só positivamente como também o levaria à uma decadência sem precedentes. 

No papel do protagonista Vladimir Brichta: ácido e voraz, encarna a figura do palhaço quase que de maneira orgânica. Muito do êxito daquele que já é considerado um dos filmes nacionais do ano, se deve a essa personificação. Representando a rainha do rebolado, numa feliz interpretação, está Emanuelle Araújo: participação pontual, mas ao mesmo tempo marcante e necessária, já que a moça na época teria vivido um affair com Barreto. É engraçado pensar que o ícone da sensualidade oitentona, cantou 'Conga,Conga, Conga' no palco de um programa infantil de grande audiência, e ainda por cima fez subir os níveis de audiência e sabe-se lá, outras 'cositas' mais. Hoje um episódio desses? Nem pensar.. e os 'mimizeiros' de plantão? 

A primeira parte do longa é focada nesse afã pelo sucesso e no alcance dele; e a segunda parte, em como esse mesmo palhaço que deu a ele a oportunidade de sua vida também foi aquele que se tornou a representação de sua derrocada. Enquanto a abertura é ácida, engraçada e solar, o segundo ato é sombrio, cruel, mostrando toda frustração por não poder usufruir dos louros do sucesso, já que o contrato era enfático: identidade revelada representaria demissão e multa. A morte da mãe e o relacionamento complicado com o filho intensificaram a dor nesse momento crucial de sua vida. 

'Bingo: O Rei das Manhãs' é um conjunto de acertos que fazem da produção um ponto fora da curva no modo de fazer cinema no Brasil, a pegada pop e vanguardista, aliada à trilha recheada com 'medalhões' nacionais e internacionais dos 80's e a competente direção de Daniel Rezende (pela primeira vez no posto depois de inúmeros trabalhos na montagem de filmes como 'Cidade de Deus' e 'Tropa de Elite') que dá prioridade a enquadramentos e curtos planos sequência numa linguagem moderna e sobretudo com muita identidade. 

É preciso destacar a última aparição do Domingos Montagner nas telonas, que aqui representa a razão de ser do filme: a persona do palhaço de circo, papel inclusive que o saudoso ator representou a vida inteira como artista. O filme é mais um grande representante da boa fase do nosso cinema, e na produção em questão,  um eficiente relato de uma história por trás de um marco da cultura pop brasileira. Quem venham mais e mais nesse naipe. 



Super Vale Ver! 






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