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PiTacO do PapO - 'Entre Irmãs' (2017)

NOTA 9.0

Por Rogério Machado


Quem olha para a obra de Breno Silveira, que tem na bagagem filmes como 'Dois Filhos de Francisco', 'Gonzaga - De Pai pra Filho' e 'A Beira do Caminho', já de cara sabe que o diretor tem uma certa predileção em mexer com as emoções do espectador. 'Entre Irmãs', seu novo filme, - um épico nacional por sinal (cerca de 2 horas e 40 min) - que está na Première Brasil do Festival do Rio e estreia nessa quinta em todo brasil, é uma adaptação da obra de Frances de Pontes Peebles intitulada 'A Costureira e o Cangaceiro', e que para nossa alegria, é um deleite aos olhos e ao coração. 




Na história que se passa entre os anos 1920 e 1930, seremos apresentados às órfãs Emília (Marjorie Estiano) e Luzia (Nanda Costa). Elas são as melhores costureiras de Taquaritinga do Norte, uma pequena cidade de Pernambuco. Fora isso, não podiam ser mais diferentes. Morena e bonita, Emília é uma sonhadora que quer escapar da vida no interior e ter um casamento honrado. Já Luzia, depois de um acidente na infância que a deixou com o braço deformado, passou a ser tratada pelos vizinhos como uma mulher que não serve para se casar e, portanto, inútil. 

Um dia, chega a Taquaritinga um bando de cangaceiros liderados por Carcará (Júlio Machado), um homem brutal que, como a ave da caatinga, arranca os olhos de suas presas. Impressionado com a franqueza e a inteligência de Luzia, ele a leva para ser a costureira de seu bando. Após se distanciar da irmã, a pessoa mais importante de sua vida, Emília se casa e vai para o Recife. Ali, em meio à revolução que leva Vargas ao poder, ela descobre que Luzia ainda está viva e é agora uma das líderes do bando de Carcará. Sem saber em que Luzia se transformou após tantos anos vagando por aquela terra escaldante e tão impiedosa quanto os cangaceiros, Emília precisa aprender algo que nunca lhe foi ensinado nas aulas de costura: como alinhavar o fio capaz de uni-las novamente.


'Entre Irmãs' é muito mais do que uma simples história de reencontros , é uma saga de duas mulheres muito à  frente de seu tempo: cada uma à sua maneira, demonstra força e empoderamento sem igual. Luzia é a face da coragem e intrepidez, não teme nada e sabe que seu destino é ser livre.  Já Emília sonha em ser uma dama da capital. O casamento, acaba se tornando um meio da moça conseguir seus objetivos, mas isso não necessariamente denota que ela não seja romântica e sonhadora, muito pelo contrário. Mas apesar das aspirações e da aparência frágil, ela guardava em si uma inteligência e jogo de cintura que eram notados por quem quer que fosse. Em ambos as casos, as aparências viriam a enganar. 


Pra mim, a principal mensagem do longa de Breno Silveira é a quebra de arquétipos e esteriótipos.. e porque não do preconceito?  Tanto na narrativa central como na subtrama, o filme trata de assuntos que desde aquela década (numa escala muito maior, claro) e até hoje continuam a ser tabus, tratados de maneira séria e com muita sensibilidade. Aliás, estereotipado é exatamente o que o novo trabalho do diretor não é, muito menos do que outros trabalhos encabeçados por ele e ambientados no sertão. 


Muito se deve à isso ao acertado elenco escolhido: Marjorie e Nanda entregam interpretações primorosas que traduzem a essência do sertanejo, mas ao mesmo tempo carregadas de uma personalidade (ou personificação) das mulheres independentes dos tempos atuais. A fotografia, figurinos e reconstituição de época são outros acréscimos ao deslumbre da produção.  'Entre Irmãs' é o que o cinema brasileiro sempre teve de melhor, mas sem se repetir. 


Super Vale Ver !


DIREÇÃO
Breno Silveira

EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Frances de Pontes Peebles, Patrícia Andrade
Produção: Breno Silveira
Fotografia: Leonardo Ferreira
Trilha Sonora: Gabriel Ferreira

ELENCO
Ângelo Antônio, Cláudio Jaborandy, Cyria Coentro, Fábio Lago, Júlio Machado, Letícia Colin, Marjorie Estiano, Nanda Costa, Rita Assemany, Romulo Estrela


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