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PiTacO do PapO - 'A Natureza do Tempo' (2017)

NOTA 8.5

Por Rogério Machado


O cinema de conflitos sociais cresce absurdamente seja em que língua ou nacionalidade for, e no cinema árabe a temática costuma aparecer com mais frequência.  O papel social do cinema, assim como a exposição multicultural se faz presente mais uma vez no longa de estreia do diretor Karim Moussaoui: o cineasta apresentou seu país de origem (a Argélia) de três formas distintas - 'A Natureza do Tempo' (ou 'Until The Birds Return', título em inglês) é mais um dos destaques do Festival Internacional de Cinema do Rio.




O longa se passa na Argélia dos tempos atuais e nos apresentará a vida de três pessoas completamente diferentes que irão se interligar inesperadamente: Na primeira história acompanharemos o personagem Mourad (Mohammed Djouhri), um empresário enfrentando dificuldades financeiras, que está no meio de dois relacionamentos: um com sua ex-esposa e um filho inseguro com as escolhas e os problemas próprios da juventude. Em seguida conheceremos o personagem Djalil (Mehdi Ramdani), o motorista de Mourad que lhe pede licença de seus serviços para realizar outro, qual seja, conduzir o pai, a mãe e sua filha Aicha (Hania Amar) até o casamento desta. Contudo, conforme a narrativa progride, percebemos que ele e a futura noiva não são tão estranhos um em relação ao outro, dividindo um passado em comum. Por fim, temos a história de um neurologista Dahman (Hassan Kachach), o qual fica indignado ao saber de um rumor sobre seu suposto envolvimento em um estupro coletivo por uma mulher que agora o busca na cidade, o que leva Dahman a confrontá-la pessoalmente sobre o ocorrido.

Essas três histórias se entrelaçam de maneira muito natural e sutil, sim, é verdade, mas em contrapartida a proposta de Karim promove em uníssono um debate multidimensional sobre temas que circundam toda sociedade, como a violência e a fraqueza do ser humano diante de questões corriqueiras e ultrajantes ao mesmo tempo, mas que sempre serão difíceis de ser digeridas. A segunda narrativa, muito recorrente no cinema em questão,  é a dos casamentos arranjados em que os envolvidos não parecem estar satisfeitos com os rumos que suas vidas tomarão à partir dali. Esse ato acaba sendo o momento mais leve da trama, que foca sua linha narrativa em temas mais obscuros, como por exemplo a omissão em meio à atos violentos. 

Numa Argélia devastada pela pobreza, com cenários sujos, áridos e cinzentos se destacam as motivações por traz de diversas incertezas. Apesar de tantas histórias sofridas que se mostram também através dos planos e a fotografia de David Chambille, é perceptível a esperança que se esconde por entre os prédios superpopulosos e os muros pichados. Por mais que cada um esteja naquele exato momento trilhando seu fardo diário, há também uma sensação de que algo poderia mudar, seja de uma hora pra outra ou mesmo num futuro distante: há um discurso de esperança subentendido e a tilha sonora nessa hora se faz imprescindível para nos causar essa impressão. Os desfechos não são levados em conta por Karim, cabe ao espectador criar sua concepção sobre o destino de cada personagem, e isso, ah... isso é o grande barato do cinema. 

Vale Ver!

DIREÇÃO
Karim Moussaoui

EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Maud Ameline ,Karim Moussaoui
Produção: Olivier Père, David Thion
Fotografia: David Chambille
Montagem: Karim Moussaoui
Estúdio: Les Films Pelléas
Distribuidora: Imovision

ELENCO 

Mohamed Djouhri, Sonia Mekkiou, Mehdi Ramdani, Nadia Kaci,Chawki Amari, Aure Atika
















Um comentário:

  1. Filmes do Karim são obrigatórios. Entrou para minha lista do Festival. Pra conferir em casa quando sair, pois infelizmente não deve ser exibido no puramente comercial Cinemagic Rio das Ostras.

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